terça-feira, 8 de abril de 2014

A religião também está no gibi.


Tal qual o King Mob de Os Invisíveis, eu venero um deus com cabeça de elefante. Ainda assim, tenho andado envolvido com uma das versões em quadrinhos da bíblia. Tudo que tem demanda tem público, e a religião nunca esteve tão em voga quanto nos dias de hoje. Tal popularidade requer uma atenção maior para que erros pretéritos não sejam repetidos; afinal, com a velocidade da informação, as reclamações são quase imediatas.
Falar sobre religião é algo que depende não só da opinião do criador do gibi como de seu know how no assunto. A maioria dos envolvidos no universo das HQs não sabe o que fazer com o tema ou simplesmente quer desconstrui-lo. O Genesis de Robert Crumb e Chosen, o eleito do senhor são um bom exemplo de como o cristianismo pode render debates. Já Preacher descortina a história de um pastor que se meteu numa jornada cheia de infortúnios desde que Deus se ausentou e um mestiço anjo/demônio fugiu de sua prisão celestial.
Numa cultura judaico cristã é comum ver um monte de exemplos. Alguns são bizarros, como Battle Pope, as aventuras de um Papa que conta com a ajuda de Jesus Cristo para salvar São Miguel; ou Zombie Jesus, de Rob Liefeld, em que após o sepultamento do filho de Deus uma horda de zumbis é despertada e seus apóstolos são forçados a lutar contra os desmortos (destaque para Lázaro, o Imortal); ou também Godissey, um bizarro confronto entre deuses de diferentes culturas, que por acaso, tem Jesuscomo um dos lutadores.

Battle Pope e Jesus Cristo
Se a religião que nos governa é vista com várias liberdades criativas, as dos outros é vista de formas tão díspares que vão do absurdo ao desrespeito e, na maioria das vezes, seus símbolos máximos são adaptados para se adequarem às histórias em que aparecem. É comum vermos deuses de outras religiões tanto como (super)heróis quanto vilões. Algumas vezes até da religião majoritária vigente, como é o caso do anjo Ângela, criada por Neil Gaiman para as histórias do Spawn (mas que atualmente está na Marvel) e de Magdalena, agente do clero criada para as histórias do Darkness, personagem do selo Top Cow que também já foi perseguido por anjos.  Exemplos clássicos de outras religiões são: Mulher-Maravilha, que até 1986 teve um panteão com as versões romanas dos deuses gregos e, após esta época, passou a ser basicamente de origem Grega com seus deuses readaptados para este panteão; Thor e os deusesAsgardianos; e os diferentes Hércules dos quadrinhos, cujos panteões greco-romanos são os mais famosos. Mas, se procurarmos acharemos várias histórias baseadas em outras filosofias, como o material da Virgin Comics, que falou de XintoismoHinduísmo, religiões chinesas e até chegou a ter uma versão do Buda escrita por Depak Choprah.
É curioso lembrar que atropelos ocorreram. Um exemplo? O primeiro contato dos leitores americanos com o hinduísmo foi numa edição do Homem-Aranha em que ele e os X-Men encontram um grupo de cientistas transformados que assumiram características das divindades desta religião.
Bizarro? As religiões africanas e seus sacrifícios, entretanto, sempre foram segregados ao terror. Vodu (americana) e Macumba (brasileira) já assustaram muitos leitores que criaram uma visão errada baseada em elementos praticados por alguns de seus sacerdotes.
Curiosamente, de uns tempos pra cá alguns autores tem buscado narrar histórias mais fiéis. Um bom exemplo disso é a série Histórias da Bíblia, que narra as histórias numa linguagem infantil capaz de fazer novos leitores. Guerreiros de Deus, de André e Lya Alves, funciona tanto como algo para iniciados quanto como literatura descompromissada. Tivemos a Bíblia em ação e uma série de projetos, como a coleção Deuses do Olimpo, que destrincha as divindades gregas e suas histórias para que possamos conhecê-las como realmente são. O mesmo vale para AfroHQ: História e Cultura Afro-brasileira e Africana em Quadrinhos, que desmitifica os orixás e os apresenta como as divindades que realmente são.
A lista de quadrinhos religiosos e suas diferentes óticas é tão grande que poderia ocupar várias colunas. Mas a verdade é que eles são o que são: quadrinhos inspirados em religiões, o que serve tanto para criar novos fiéis quanto para informar ou desinformar seus leitores. As prateleiras das grandes lojas de livros estão cheias deles, e alguns a preços acessíveis. Que tal dar uma conferida e se entreter com a fé dos outros?
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Para tudo se acabar na quarta-feira.

Carnaval e quadrinhos.
Quadrinhos e samba têm a ver? Depende. Se você pensa só nos quadrinhos de Super-Heróis ou nos independentes modernos, a resposta é óbvia. O importado nunca vai comemorar os quatro dias do reinado de Momo. Já o quadrinho brasileiro…  E que personagem nacional exprime a brasilidade nagô senão o bom e velho Joe Carioca, o nosso Zé Carioca?
Vamos botar o bloco na rua que na Vila Xurupita o carnaval sempre teve vez.
Nosso querido papagaio não só nasceu polêmico como foi combatido pela fina flor do comunismo brasileiro da década de 1940.
Durante a Segunda guerra Mundial, o governo dos EUA tentou aumentar sua base aliada e mandou seu maior cartunista numa viagem pelas Américas, num esforço que ficou conhecido internacionalmente como “A política da boa vizinhança”. Ou seja, Walt Disney em pessoa visitaria as Américas e criaria personagens inspirados em habitantes típicos para uma série de curtas que seriam divulgados mundo afora. Outra artista envolvida no esforço foi a cantora portuguesa Carmem Miranda, que respondeu todas as críticas à altura com a música Ensopadinho de Chuchu.

Walt Disney nas areias de Copacabana
Num Brasil divido entre integralistas, comunistas e direitistas, fazer sucesso no exterior era chave de cadeia.
Chegando ao Brasil, Disney se entusiasmou com a arte do famoso cartunista J. Carlos (responsável pela arte de todo o material nacional da Disney) e resolveu homenageá-lo. Há quem diga que os sambistas Paulo da Portela e José do Patrocínio Oliveira também podem ter sido homenageados e especula-se que o hábito do guarda-chuva foi emprestado de uma figura folclórica carioca conhecida como Dr. Jacarandá.

Zé Carioca e Pato Donald em "Alô, Amigos"
O resultado foi a criação de um personagem bem brasileiro que, em 1942, no filme “Alô, Amigos“, introduziu o Pato Donald ao seu cantinho preferido da América Latina. O sucesso do personagem foi tão grande que, antes mesmo de sua estreia nos cinemas americanos, ele já tinha tiras em jornais brasileiros. Com o êxito do primeiro, foi produzido mais um filme, que em nosso país foi batizado com o nome do seguimento que nos interessou: “Você já foi à Bahia?” No filme, que teve até músicas de Ary Barroso, os três amigos Zé Carioca, Donald e o Mexicano Panchito chegaram a dançar ao lado de Aurora Miranda (irmã de Carmen) e do Bando da Lua.
Já nos quadrinhos, apesar de ter passado por outras editoras, foi na editora Abril que ele fez sua casa.

Donald, Zé e o mexicano Panchito em "Você já foi a Bahia?"
Suas histórias foram as primeiras a serem produzidas exclusivamente por artistas brasileiros, não só abrindo um belo mercado de trabalho como se tornando um item cultural de exportação. Ainda assim, seus coadjuvantes foram criados  pelos americanos. RosinhaNestorRocha Vaz… Só o Zé Galo foi criado no Brasil. Sua função foi adaptar para a nossa realidade as qualidades do então rival Luís Carlos, criado para as tiras americanas.
Seu flerte com o carnaval já vem da primeira história de sua revista americana, quando se envolveu com uma sambista inspirada em Carmem Miranda. Não por acaso a história se chamava O Rei do Carnaval.
Se no filme ele era um típico malandro brasileiro dos anos 40 apaixonado pelo Brasil, nos quadrinhos ele não só se tornou um favelado como um belo dum caloteiro capaz de qualquer coisa para fugir dos cobradores, até vencer uma corrida de 400 metros. E mais do que sua brasilidade nagô, ele foi mostrando sua carioquice. Samba, praia e futebol foram assuntos constantes em suas histórias. Contudo, por ser um personagem infantil, ele nunca foi visto com uma cachacinha na mão.
Curiosamente, devido à falta de histórias próprias, histórias de outros personagens foram readaptadas como sendo dele nos primeiros anos e até que a produção nacional fosse oficializada, para evitar que a Editora Abril cancelasse sua revista. Com isso, sua personalidade também era adaptada para caber dentro das histórias em que era incluído. Daí que muitos personagens originais tiveram de ganhar seus similares no universo do Zé Carioca. Um bom exemplo disso são os sobrinhos Zico e Zeca, que surgiram para ser decalcados quando histórias do Pato Donald fossem aproveitadas. A primeira história produzida no Brasil com o Zé recebeu o nome de “A Volta de Zé Carioca” publicada em O Pato Donald #165 (1955), cujos desenhos são atribuídos a Luís Destuet. Já a primeira história produzida por um artista brasileiro, Jorge Kato, teve o mesmo título da história de 1955 e foi publicada em O Pato Donald #434 (1960).
Até por causa das adaptações, e diferente do que era feito nos EUA, sua versão brasileira vivia em Patópolis (ou numa cidade próxima) e dividia muitas histórias não só com os personagens famosos quanto com seus coadjuvantes. Isso só mudou a partir de 1972, quando a produção Disney nacional foi consolidada e ele passou a fazer suas papagaiadas em cenários que conhecemos bem.
Nos anos 90, seu guarda roupa chegou a ser mudado. As roupas de sambista da primeira metade do século ficaram pra trás e ele passou a se vestir como qualquer jovem morador de comunidade. Até um boné ele passou a usar. Também nos anos 90 ele chegou a apresentar um Talk Show no extinto programa TV Colosso.
Na virada do milênio, vários títulos foram cancelados e a Disney decide fechar seu estúdio aqui no Brasil. Zé Carioca teve, então, sua última história nacional inédita publicada em 2001 – ainda que em 2005 e em 2013 tenham sido feitas mais tentativas, quando o personagem voltou com histórias inéditas produzidas em outros países. Supostamente, a editora tem um banco de histórias que talvez nunca lance.
Talvez vejamos novidades em 2014 e 2016, mas a verdade é que mesmo sem histórias inéditas continuamos tendo o papagaio em algumas publicações e, de tempos em tempos, o vemos em animações da Disney. Mesmo que a quarta-feira de cinzas tenha chegado para nosso querido Zé Carioca, a verdade é que novos carnavais podem trazer novidades para seus fãs.
[https://www.youtube.com/watch?v=4UviHjgH-d4]
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Editores, artistas e o novo mercado de quadrinhos nacionais


Não dá mais pra retardar a velocidade da informação. Em 2014 qualquer comentário é respondido com a mesma velocidade com que é feito.
Dia desses, um artista comentou que, com as novas formas de publicação, a necessidade de um editor era basicamente nula. Quase que prontamente um editor fez um pequeno discurso sobre sua editora ter trazido vários autores novos pro mercado e sobre como eles estavam aumentando os pontos de venda. Depois de ouvir os dois lados da questão, eu me pergunto: Qual dos dois está errado? Pergunto isso porque, ao seu modo, os dois estão certos.
Historicamente falando, a maioria dos editores brasileiros sempre deu um jeitinho de se aproveitar dos artistas, o que criou bolhas produtivas regionais e esporádicas. O Rio de janeiro, por exemplo, participou de uma entre os anos 1970 1980 e até hoje está tentando se mudar pra São Paulo, que é onde todas as bolhas acontecem. Fora do eixo Rio-São Paulo, as editoras sempre rareavam e os artistas tinham de implorar atenção e aceitar as condições dos poucos editores que dão chances.
Se eles são de confiança? Digamos que seja um recalque pessoal, mas por uma série de motivos, poucos são. Alguns nem são a velha iniquidade, mas são sonhadores e desorganizados. É o típico viciado que virou traficante e quase não lucra com a produção.
Se o traficante não tem lucro, imagina o avião… Ah, sim, muitos só são editores porque são os donos da editora. Numa editora, se você não se dá bem com um dos editores, normalmente tenta a amizade com outro. O ponto é que no Brasil a editora só tem um editor e normalmente acabamos nos sentindo exatamente como nos tempos de escola, quando tentávamos reclamar da aula de um professor que (por acaso) também era o diretor.
Uma editora precisa de pontos de venda físicos e muitas vezes tem mais prejuízos do que lucros. Como muitos tem medo do temido material nacional, o editor brasileiro que arrisca não só paga pouco como existem casos em que ele deixa bem claro que, se você não quiser, outro quer.  Sim, também existem os artistas que só querem ter o prazer de dizer que produziram algo e mostrar pro papai, pra mamãe e pra você que são artistinhas de respeito. O ponto é que isso não cria um mercado de profissionais. No momento em que até um artista novato com o traço em desenvolvimento quer lucrar com sua arte, todos vão fazer qualquer coisa menos quadrinhos depois de um tempo. Perdemos diariamente um grande número de artistas que poderiam ser importantíssimos pro meio simplesmente porque eles não monetizam sua arte.
Parece que o virtual não só quebrou a incerteza como ainda gerou essa possibilidade do artista ganhar o seu qualquer. E com o surgimento da primeira loja virtual brasileira, os intermediários se tornaram levemente desnecessários.
Qualquer um pode produzir e descobrir quanto vale seu show. Mesmo que ele valha pouco, afinal, estamos criando uma nova forma de comércio que depende de seus leitores e a verdade é que, por mais que já tenhamos internet há quase 20 anos, ela ainda está engatinhando. Ainda assim, a geração mais nova gosta de ler na tela. Não gosta do papel ou simplesmente gosta das duas mídias.
Vivemos numa época de descentralização. Com a nova facilidade, o editor é obrigado a alcançar um nível novo e realmente oferecer algo que faça a diferença. Ele deixou de ser a única porta de entrada do artista. E isso é bom.
Mas ele não precisa se tornar uma relíquia. Quer um exemplo? Deu certo no digital? Investe no papel. E é aí que entra o editor. Ele precisa estar antenado pra saber o que está dentro de seu perfil de publicação e mandar bala. E mesmo que não se enquadre no perfil de uma editora, o artista ainda poderá criar uma fanbase na internet que continuará consumindo seus quadrinhos.
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O Dia do Quadrinho Nacional


Dia 30/01 foi o Dia do Quadrinho Nacional.
Você sabia disso? Se sua resposta foi “Nem sabia que tinha algo além da Mônica…”, não se espante, você não está só.
O dia do quadrinho nacional surgiu em 1984, e é uma homenagem ao dia que o italiano Ângelo Agostini chegou no Brasil no longínquo ano de 1869. Sua importância para os quadrinhos é tanta que suas histórias As aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte e Zé Caipora são tidas como os primeiros quadrinhos publicados em nosso país. Seu diferencial foi o uso rudimentar do que atualmente chamamos de linguagem dos quadrinhos. Outra homenagem a esse importante artista foi o prêmio Ângelo Agostini, criado em 1985 pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo.
Agostini foi um precursor, mas os quadrinhos continuaram evoluindo até se tornarem o que são hoje. Quase dois séculos depois, a Mônica foi o quadrinho que deu certo, mas vários artistas que pensaram em algo na mesma linha afundaram com o tempo.

Turma do Lambe-Lambe

Bons exemplos (no mesmo estilo) são a Turma do Lambe-Lambe, de Daniel Azulay, e Cacá e sua Turma ou Os Amendoins, de Ely Barbosa, que já tiveram até programas de TV, mas viraram nostalgia.  E se formos ver outros estilos, veremos que por um bom tempo, apesar de todas as dificuldades e problemas, sempre surgiram HQs para todos os públicos e de diferentes qualidades.
Mas o que fez com que fosse tão difícil fazer quadrinhos no Brasil? Podemos dizer que boa parte da culpa é do preconceito, mas quando ele surgiu?
Creio que a raiz disso venha dos anos 1940, num brasil onde integralistas e direitistas mostraram sua cara feia e tentaram dominar as ideias e ideais do povo. A Caça às Bruxas começou na Itália de Mussolini, passou pela América Macartista e aportou na Terra Brasilis, onde se estabeleceu após uma pequena adaptação. Inspirados na ideia do líder fascista de que ler quadrinhos criava mentalidades antinacionalistas e nos conceitos americanos de que as HQs deturpavam a cabeça de seus leitores, o Brasil do integralismo pulverizou nas mídias a carta de um suposto presidiário, que só teria chegado onde estava devido à lavagem cerebral feita pela nona arte.

Cacá e sua Turma
Foi o bastante para que a mídia, os políticos e a igreja criassem uma campanha funcional que, mal interpretada por nossos pais e avós, levou-os a entender que tal literatura emburrecia seu leitor e, por isso, era algo “do mal”.
Queira você ou não, esse período fez um tremendo estrago a longo prazo. E não pelos motivos certos, afinal, o que realmente ficou foi o conceito de que era algo infantil e de que só idiotas perdiam seu tempo lendo. Sim, nossos pais e avós eram tão ignorantes que interpretaram a verdade conforme suas percepções. Infelizmente, isso queimou nossa mídia e gerou um problema sério: a condescendência. Nos tratam como retardados ou idiotas e, quando entrevistam alguém do nosso meio, sempre inserem algum tipo de subtexto preconceituoso. Infelizmente para nós, não existem leis anti discriminação que defendam o nosso grupo.
O preconceito maior, aliás, consistiu em não criar um público nem um mercado para o nosso tipo de mídia. É impossível investir num produto diferente se supostamente só existe um público. Já que quadrinho é essa coisa de Mônica ou de Disney, poucas editoras investiram em algo novo. Houve boas editoras (como a Vecchi, que publicou terror e faroeste, a Taika, que publicou super-heróis, e a Bloch, que

Ângelo Agostini
fez alguns experimentos), mas foram grupos independentes de artistas, como o que se mudou para o sul e montou a editora Graphipar, que revelaram importantes nomes do quadrinho nacional adulto (a maioria migrou para o exterior).
O grande problema é que esse tipo de mercado deixou um gosto amargo em seus artistas, que passaram a desacreditar naquilo que faziam e desencorajavam todos os que buscavam seus conselhos. Que mercado? Mesmo que isso fosse um fenômeno mundial, era na nossa realidade que a pedra apertava, e se você cresceu nos anos 80 praticamente não viu nada nacional na banca e achou os anos 90 um oásis. A década que trouxe os agenciadores de quadrinhos internacionais e os quadrinhos com traço inspirado em mangás mudou a forma como muitos viam a mídia. Tivemos convenções internacionais, barateamento de papel e vários fanzines que se tornaram revistas independentes.
Nossa geração pegou o bastão e fez seu trottoir. Sempre lembrando que somos a primeira geração de pais assumidamente nerds, que se comunicam (sem preconceitos ou condescendências) com a mesma linguagem dos filhos. Ser nerd ou gostar de quadrinhos não incomoda nossos filhos, que agora leem e produzem quadrinhos de formas novas. Com a internet, os novos candidatos a Ângelo Agostini podem fazer seus próprios quadrinhos e garantir que próximas gerações também comemorem essa importante data.
 
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O Sonho de Publicar Quadrinhos


Enviado 26/01/2014 8:00 am por Alexandre D´Assumpção

O sonho de publicar quadrinhos.

Tenho falado muito sobre o que vem de fora, sobre o estabelecido, mas nunca falo nada sobre mim ou sobre os pequenos sonhadores.
Você quer fazer quadrinhos?
Como membro do Coletivo Capa Comics, eu produzo quadrinhos para um tipo específico de leitor, ainda que usando uma linguagem universal. Afinal, fazemos quadrinhos e quadrinhos são um dos mais poderosos veículos de comunicação existentes. Mas quem se importa?
Talvez você. No meio de todos os tipos de quadrinhos, a maioria dos leitores é obrigada a se ver dentro de milhares de realidades, nenhuma delas igual à sua. O que grupos como a Capa Comics fazem é justamente pegar os quadrinhos e transformá-los em algo que valha a pena para um tipo de leitor. Não moramos em Nova Iorque, no Japão e muito menos no bairro do Limoeiro e, por isso, somos obrigados a nos adaptar ao que temos.
Na verdade, não. Ao longo de minhas andanças eu descobri que todos os quadrinhos são locais e conversam com algum tipo de comunidade. Se isso é verdade, por que eles não conversam com você? Se essa for uma das suas reclamações, eu tenho a resposta: Mexa-se e faça seu próprio quadrinho! O que o torna diferente de todos os outros quadrinhistas? Só você sabe falar sua língua e várias pessoas estão em busca disso.
Se tudo é local, faça você a história do seu local. No mundo todo só você se conhece, e já que você é parte de sua comunidade, você é a melhor pessoa para falar sobre ela. No Brasil muitos falam do Nordeste, do Sul e de outros estados, mas quem fala do seu lugar?
Que tal você?
Imagine, ouse e faça a diferença como nós fazemo
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domingo, 12 de janeiro de 2014

On the road Rural

Você sabia?
A tira Hiroshi e Zezinho surgiu em 1961 e durou dois anos, até que um personagem veio e roubou a tira, que em 1963 passou a se chamar Chico Bento.
Zezinho, Hiroshi e Chico Bento
Isso significa que o evento completou 50 anos, mas ninguém comentou. Não é curioso imaginar que todos os personagens que fizeram escada pra “ladra de tiras que deu certo” foram meio que relegados ao segundo plano? O universo do Maurício de Souza não começou com a Mônica, mas é só dela que falamos. Vamos tentar quebrar isso?
O Maurício se redimiu e lançou Chico Bento Moço. Você já leu? Vale a pena!
Mexendo em time que está vencendo, a revista pega o já conhecido conceito dos mangás com personagens crescidos e traveste em algo regional e (por que não?) intimista.
Chico, seus amigos e sua eterna namoradaRosinha cresceram e, como toda ave migratória, têm de começar sua viagem de crescimento. No momento certo, tal jornada os levará de volta ao ponto de partida, onde criarão seus ninhos e formarão família. Aliás, esse é o mote do primeiro número, a despedida do ex-caipirinha, quando muitos dos personagens que participaram de seu rito de passagem confirmaram a ligação do protagonista com o lugar de onde veio, mesmo sabendo de todos os percalços que esta ligação geraria em sua nova realidade.
E isso é bom. Quase todos nós tentamos emular os ambientes onde estamos inseridos no momento, como camaleões sociais que se esquecem de suas origens, passando a viver apenas o presente e tentando evoluir dentro dele. Indo na direção contrária, Chico Bento afirma suas raízes e tenta adaptá-las a todos os choques culturais que passa a viver.
Chico Bento também sofreu bullying?
Como todos na trama foram para faculdades de cidades distantes para lidar com suas escolhas profissionais, ele é convidado pelo primo para morar numa república, lugar onde suas diferenças são sempre grifadas. Ainda assim, Chico invariavelmente consegue usar soluções baseadas em suas raízes. Num dos números, por exemplo, após esfriar a cabeça e analisar a raiz de seus atritos com os novos colegas, ele aprende não só a identificar cada um deles como cria uma amizade sólida com todos, principalmente com o que adora uma comidinha caseira e com o que percebe que suas modinhas de viola atraem muitas garotas.
Seria fácil o personagem se perder ou ser descaracterizado. Sua revista irmã, Turma da Mônica Jovem, abusa da fantasia, o que nunca funcionaria aqui. Já a viagem beatnick de busca pelo eu proposta pela revista faz com que todos se identifiquem com a jornada dos personagens. Todos vivemos algo parecido em algum momento da vida.

Não é difícil imaginar que, entre uma modinha de viola e outra, o personagem cante um daqueles rocks rurais dos anos 1970 ou alguma música do Bob Dylan.
E o título Chico Bento “Moço” (e não “Jovem”, como o usado em sua revista irmã) deixa isso bem claro. Afinal, não só lembra o interior como dá um tom mais clássico. A palavra mocidade foi muito usada para falar dos jovens brasileiros até os anos 1970/80, antes de ser modernizada para juventude e jovem, termos mais dinâmicos. O uso do termo Moço no título denuncia o ritmo diferente que a história quer passar.

O gibi ainda rendeu dois derivados interessantes. Um número zero, lançado apenas na Bienal do Livro de 2013, se tornou um exemplar raro, uma revista de colecionador. O outro resultou da estratégia de aproveitar o mote da realidade aumentada usada pela Marvel em suas revistas para, quando o primeiro número foi pra banca, criar “O Sumiço da Rosinha”, um jogo para celular onde você coloca a câmera sobre algumas páginas e vê uma caverna cheia de mistérios onde você viverá a jornada do herói.
Que tal conferir e descobrir o quanto a história pode te tocar? Você pode se surpreender e passar a admirar ainda mais nosso querido ladrãozinho de tiras.

O mundo dá voltas

Anos atrás, quando a internet ainda engatinhava, um conhecido comentou que pretendia digitalizar todos os seus quadrinhos para economizar espaço. Confesso que ri. Nos anos 90, a ideia de digitalizar quadrinhos soava idiota. Os computadores ainda estavam se popularizando, a internet engatinhava e a única forma de gravar e transportar dados eram os Zip Drives de 100 mb. Ninguém imaginaria que em 2013, se nos reencontrássemos, ele viria com o clássico: “Eu te disse”! Mas foi justamente o que aconteceu. Nesse novo encontro ele comentou sobre a série The Private Eye, que além de ter sido criada para explorar todas as possibilidades do formato digital, também é a primeira história em quadrinhos traduzida simultaneamente para o português.

Rumo a Era Digital
Desde a popularização dos computadores e da internet que os criadores de quadrinhos têm pensado em formas de explorar o novo instrumento e a mídia criada com seu surgimento.  Nos anos 80, o colorista Daniel Vozzo popularizou o Photoshop nas páginas daPatrulha do Destino e de SandmanSteve Oliff criou a empresa de colorização digital Olyoptics e Richard Starkings criou aComicraft, empresa especializada em Letramento digital. Juntas, a Comicraft e a Olyoptics se tornariam referência de qualidade nos anos 90 pelo uso de softwares de edição gráfica. Isso no auge da moda da arte digitalizada, quando o tablet ainda era apenas uma mesa digitalizadora e tanto o Photoshop quanto o Illustrator eram admiráveis mundos novos capazes de criar efeitos nunca vistos nos quadrinhos (na maioria das vezes exagerados).
Com as primeiras digitalizações veio a possibilidade de uplodear a arte para os servidores das editoras, o que passou a ser aproveitado para criar conteúdo independente direto para a internet. E mais uma vez o computador mudou a forma como lemos quadrinhos. Vários artistas passaram a explorar a internet: tanto novatos que não conseguiriam espaço em outra mídia como veteranos buscando experimentar novas ideias e alcançar um público ainda maior. Para o bem e para o mal, a Internet mudou não só a forma como lemos quadrinhos como, com o surgimento dos scans, nos fez questionar se deveríamos continuar pagando por eles.
DC na era dos pads
Com os Scans e a possibilidade se se ler quadrinhos no computador, as grandes editoras começaram a sentir a diferença onde realmente doía, no bolso, e tentaram correr atrás do prejuízo.  Surgiram projetos como a Zuda Comics, braço virtual da DC Comicsque promovia concursos onde os quadrinhos digitais preferidos dos leitores eram renovados por mais uma temporada (e recebiam por isso) enquanto outros lançamentos iam diretamente para os computadores e notebooks dos interessados.
Foi quando a Amazon nos trouxe o Kindle e Steve Jobs mudou as regras do jogo, dando ao mundo uma ferramenta que até então não sabíamos o quanto precisávamos: o Tablet. Com ele, o mundo se tornou nossa sala de leitura. Para esta nova geração de leitores surgiu a ComiXology, uma distribuidora virtual na qual os quadrinhos das grandes editoras são lançados quase que simultaneamente a suas versões físicas, e onde quadrinhistas do mundo todo podem postar e comercializar seu material independente a um preço acessível.  Você compra os títulos que lhe interessam e, apesar de não poder fazer download de todos (apenas seis), pode mantê-los em seu histórico para ler quando quiser.
Gama Project, a Marvel Comics do século XXI
Com isso, a experiência de ler os quadrinhos mudou, ficou mais dinâmica. Além daqueles adaptados ou criados para leitura digital, temos as Motion Comics, a versão século XXI dos desenhos desanimados da Marvel. Agora ela anunciou o Gama Project, que trará som aos quadrinhos, e a demanda pelas edições digitais gratuitas de todos os gibis números um já publicados pela Marvel Comics fez com que o servidor do site ComiXology caísse… Só faltava quebrar a barreira da língua, algo que as editoras vinham prometendo há algum tempo e que impactaria até na forma como os quadrinhos impressos são feitos. Se a editora conseguisse tradutores nativos para seus quadrinhos, elas teriam total controle sobre a distribuição digital de seus produtos mundo afora.
E o que parecia ser um tabu foi finalmente quebrado por The Private Eye, de Brian K. Vaughan Marcos Martin, que conta com os tradutores brasileirosFabiano Denardim e Érico Borgo. A história é lançada simultaneamente em inglês, espanhol, catalão e português do Brasil, dando mais um exemplo de como as coisas poderão ser em pouco tempo.
A evolução dos quadrinhos. Seriam os X-HQ?
Muitos têm dito que os quadrinhos digitais decretarão a morte da mídia impressa. Mas a cada novidade, a morte da mídia anterior é declarada até que finalmente percebe-se haver espaço para todas e que só o que muda é a forma como o autor quer que seu produto seja executado. Muitos quadrinhos produzidos diretamente para a mídia digital ganham versões impressas, assim como muitos quadrinhos impressos já vêm com um passe para a sua versão digital, que possui vários adicionais. A grande verdade é que o digital ocupa bem menos espaço do que o físico e que aquele meu colega pode ser visto como um visionário. Afinal, ele comentou nos idos anos 1990 sobre algo que só foi consolidado quase 20 anos depois.

O delicado som do trovão

O editor-chefe da Marvel ComicsAxel Alonso, acabou de anunciar que finalmente teremos o Marvelman nas páginas da editora. Desde 2009, quando a Marvel conseguiu os complicados direitos deste herói, os fãs aguardam ansiosamente o que poderia ser considerado um final feliz para o personagem, que depois de quase duas décadas de falsos retornos, merece um retorno triunfal.
Você já ouviu falar de Marvelman? Não se acanhe com uma resposta negativa. Apesar de ter sido criado em 1953 pelo inglês Mick Anglo, o personagem nunca tinha chamado atenção até sua fase mais recente, quando – apesar de todos os prêmios no exterior – teve quatro edições (apenas) publicadas por aqui em 1990 – publicações que inclusive sofreram de todos os males de uma editora pequena que (supostamente) publicou material não licenciado – o pior deles: a péssima divulgação.
E esta atribulada passagem pelo Brasil sequer é o elemento mais absurdo da história deste personagem que foi criado para suprir os fãs ingleses das aventuras do Capitão Marvel, então canceladas na Inglaterra.
Melindrada com o sucesso do personagem da Marvel, a DC Comics moveu um processo contra o herói que considerava ser uma cópia do Superman. Com o cancelamento dos títulos, o editor inglês Len Miller convocou às pressas o artista Mick Anglo, a quem incumbiu da árdua tarefa de criar uma solução rápida para impasse. Para manter os leitores, o criador apostou nas semelhanças e criou o primeiro plágio que deu certo da história.
O encontro de Shazam e Marvelman
Quando a Família Marvel decidiu se aposentar e viver uma vida normal, devolveu os poderes ao mago Shazam, que encontrou substitutos à altura: dois jovens que ao bradar a chave sonoraKimota (atomic ao contrário) se tornavam Marvelman e Young Marvelman. De quebra, o garoto que pronunciasse o nome de seu ídolo, Marvelman, assumia a identidade heroica de Kid Marvelman. Entre seus muitos inimigos, figurava o terrível Doutor Gargunza, o cientista louco que pretendia dominar o mundo.
Publicada ao redor do mundo, inclusive no Brasil, esta versão mais fantasiosa do personagem conquistou muitos fãs, mas não tantos quanto seu revival nos anos 1980 conseguiria.
A sobrevida dos títulos durou até 1963, quando uma novidade chamada Marvel Comics aportou na Inglaterra com seus novos super-heróis cheios de dilemas e pontos fracos, elementos realistas que falavam mais aos leitores dos anos 60 do que a fantasia.
Ao longo de toda a sua juventude, um certo fã da série ficou se indagando o que aconteceria se o personagem tivesse esquecido sua palavra mágica e as implicações deste esquecimento no mundo ao seu redor. O fã, um cartunista chamado Alan Moore, teve a chance de desenvolver esta ideia a partir de 1982, quando, junto com outro projeto seu, V de Vingança, foi contratado pela revista Warrior para contar as novas aventuras de Marvelman.
Na série, o desmemoriado Mike Moran, agora um jornalista quarentão casado, redescobre seu mantra e inicia uma interessante jornada de autodescoberta que o levará a tomar importantes decisões que afetarão todo o mundo.
Já na Eclipse Comics, através de Neil Gaiman, Marvelman se chamava Miracleman
Adaptado para os anos 80, o personagem descobriu ser não só parte de um experimento militar secreto como também que todas as suas aventuras anteriores eram memórias implantadas por seu suposto pior inimigo, o Doutor Gargunza – na verdade, um dos cientistas responsáveis pela criação dos vários super-humanos que surgiram na série.
Sem as pressões das grandes editoras, o título foi usado para fazer diferentes experimentos e exercícios de estilo tanto por Moore quando por Neil Gaiman, que deu continuidade ao título após a saída de Moore. Quando saiu, Moore cedeu os direitos autorais do título a Gaiman, que teve de enfrentar o pior inimigo de um autor: a falência de uma editora.
Com o cancelamento da Warrior, a série foi negociada com várias editoras americanas. Já com o nome trocado para Miracleman(exigência da Marvel Comics), o personagem ganhou um título solo pela Eclipse Comics, que não só publicou em nove números tudo o que havia saído na revista anterior como deu continuidade à série até também falir.
Com a falência, recomeçou o calvário de Gaiman que, na luta para retomar os direitos do personagem, decidiu fazer um trato com Todd McFarlane, criador do Spawn e dono de uma importante fábrica de bonecos americana. Segundo o trato, Gaiman criaria personagens e escreveria algumas histórias que gerariam um ressarcimento alto o bastante para que ele comprasse os direitos de publicação do herói. Agindo de má fé, McFarlane comprou os direitos do personagem e começou a usá-lo em um de seus títulos, o que foi o estopim de uma briga judicial pelos direito que só terminaram quando Alan Moore, Joe Quesada (na época, o todo poderoso da Marvel) e outros quadrinistas interessados em ajudar Gaiman descobriam que Mick Anglo ainda estava vivo, e que na verdade todos os direitos do personagem ainda eram dele.
Marvelman na Marvel Comics

Com essa solução deux ex machina, a Marvel, para quem Gaiman havia feito alguns projetos para angariar fundos que garantissem a continuidade de seu processo contra o criador de Spawn, comprou os direitos do personagem que então voltou a se chamar Marvelman.
Entretanto, desde 2009, apesar de prometido, nenhum material inédito foi relançado, apenas algumas das histórias originais de Anglo. Os leitores interessados em ler não apenas os 25 números criados por Moore e Gaiman como também a continuação escrita pelo segundo aguardam apreensivos o anúncio da resolução de todas as complicações envolvendo os direitos destas histórias, que aparentemente foram publicadas sem a permissão do artista original, o que cancelou todos os direitos de publicação das mesmas.
Segundo Alonso, em 2013 o personagem trará grandes novidades.  A nós, fãs, e aos curiosos resta apenas esperar e sonhar com o anúncio que temos aguardado ansiosamente há quase duas décadas.

HQ: Os Quadrinhos Foram Ocupados

Tudo é política. E nos quadrinhos não é diferente. Por mais que se tente manter o status quo, sempre somos levados a conhecer visões políticas alternativas.
Depois de movimentos tanto criticados como elogiados (como anarquia, fascismo, nazismo e contracultura) terem sido introduzidos no universo dos quadrinhos, chegou a vez do Movimento Occupy. A iniciativa ganhou o conhecimento mundial em 2011 com a manifestação Occupy Wall Street, na qual os participantes se vestiam com máscaras de Guy Fawkes, um dos responsáveis pela conspiração da pólvora do século XIX na Inglaterra e inspiração para o protagonista da série V de Vingança, criada em 1982 pelo Inglês Alan Moore.
Capa da publicação nº1 da Ocuppy Comics
Os manifestantes alegavam representar 99% da população, uma maioria esmagadora e insatisfeita que reclamava de temas importantes, como a desigualdade social, o abuso das corporações e a manipulação da mídia, entre outros. Segundo acreditavam, tais assuntos eram responsáveis pela precária situação financeira do outrora mais poderoso país do mundo. Simpatizantes ao redor do globo organizaram manifestações semelhantes reclamando de problemas locais, enquanto hackers seguidores da filosofia, chamados Anônimos, chegaram a fazer sérias ameaças aos governos, demonstrando seu poderio ao deixar sua marca nas páginas principais de vários sites governamentais e midiáticos.
Com o intuito de divulgar sua mensagem utilizando o mais popular dos meios, foi criada a Occupy Comics, uma antologia de quadrinhos que narra histórias baseadas na filosofia do movimento. O projeto, que ganhou o apoio de nomes de peso, como o próprio Alan Moore,Robert Kirkman (“The Walking Dead”) e Ben Templesmith (“30 Dias de Noite“), foi colocado na rede de Crowdfunfing Kickstarter, e a renda das vendas da antologia será revertida para o movimento. Para isso, foi criado o selo/editora Black Mask, que não só produzirá a revista como terá outros projetos paralelos que, apesar de aparentemente destoarem da filosofia, podem ser levados para outras mídias e assim captar mais dinheiro para os membros do Occupy.

Apesar da polêmica de alguns títulos e seus propósitos, a ideia de se implantar uma produção em quadrinhos coletiva voltada para o bem comum não só é atraente como um divisor de águas. Até então não se tinha notícia de outros quadrinhos que tenham manifestado tão claramente sua posição política. Além do mais, é provável que a premissa de ser algo ao mesmo tempo panfletário e rentável possa prolongar a vida do Occupy, que não só passará a ser autossustentável como terá um importante braço midiático.

Na quarta-feira passada, dia 23/05, a loja de quadrinhos nova-iorquinaForbidden Planet foi ocupada para o lançamento da revista, numa prova da alta receptividade dos leitores e da viabilidade da novidade que, se bem administrada, chegou pra ficar.


HQ: Carta aos fanboys Xiitas (ou: take a smile, boys)

Defina bom e ruim.

A mais nova adaptação do Superman para as telonas
Bom é o que satisfaz suas expectativas e ruim é o que não satisfaz, certo? E isso vale tanto para bens de consumo quanto para gostos. Levando-se em conta que lazer é um bem de consumo, consumidores insatisfeitos têm todo o direito de reclamar de seus investimentos, mas nem sempre de seus gostos.
Gosto é impessoal e intransferível. O que agrada a um desagrada a muitos e vice-versa.
Cinema é um lazer consumível que, volta e meia, tenta adaptar outras mídias para a sua linguagem.  Algumas vezes com sucesso, outras nem tanto. E o que diferencia um sucesso de um fracasso pode passar pelo gosto. Filmes são feitos com a linguagem de seu tempo e nem sempre com a intenção de agradar a grupos específicos. Filmes sobre quadrinhos, por exemplo, até tentam agradar leitores de quadrinhos, mas se eles fossem o único público alvo os estúdios já teriam desistido na primeira crítica.
A trilogia de Christopher Nolan deu novo rumo às adaptações de quadrinhos para o cinema
Os leitores crescem com os quadrinhos e muitas vezes chegam a mimetizar o código moral ou acreditam que suas vidas se assemelham a de seus personagens preferidos.  Escapismo ou transferência, a verdade é que por um longo período de suas vidas eles se sentem íntimos de seus heróis de papel. Sendo a intimidade uma forma de possessão, os fanboys mais radicais se manifestam contra alterações com uma fúria capaz de queimar qualquer filme já em seu lançamento.  O pior é que a maior parte dessas críticas é baseada no gosto pessoal, mas por elas terem sido proferidas pelos formadores de opinião de então, tem mais poder do que os comentários de quem viu e gostou; muitas vezes, a maioria.
Alguns estão certos, outros errados e muitos perdem a razão em suas reclamações, mas a verdade é que as adaptações transmídia precisam falar a linguagem do momento no qual são produzidas ou serão desastres de bilheteria. E nenhum estúdio quer perder dinheiro. Aliás, foi por isso que super-heróis ficaram quase uma década fora das telonas.
Homem de Ferro abriu um mundo de possibilidades à Marvel
Mas o que torna um filme um fracasso comercial independe da ira dos leitores de quadrinhos. A verdade é que muitos estúdios não entendem a força dos ícones da cultura pop e se esquecem de que boa parte destes personagens existe há pelo menos meio século. O Superman, por exemplo, completa 75 anos neste ano e foi presenteado com um novo longa que felizmente tem recebido boas críticas desde o seu lançamento lá fora. Levando-se em conta que, após a conclusão da trilogia Batman, o peso da continuidade do universo cinematográfico da DC Comicspairava tanto sobre os ombros de aço doKriptoniano quanto dos de seu criticado diretor humano, os fãs podem respirar aliviados, pois, aparentemente, esta será a melhor adaptação do personagem em 30 anos.
O universo Marvel, por sua vez, acertou bastante desde o primeiro “Homem de Ferro” e investiu em algo que os roteiristas pareciam ter esquecido até então: a caracterização. Você reconhece os personagens e seus dilemas básicos.  São atualizados para funcionar  em uma trama de duas horas? Sim, são. Infelizmente, algumas adaptações irritam os fãs deste ou daquele personagem, mas funcionam dentro da proposta e poucos realmente reclamam. Como já disse antes, não se pode agradar a todos (nem creio que seja esta a intenção), mas a verdade é que justamente por termos nerds de quadrinhos dentro dos estúdios, os personagens nunca foram tão bem adaptados quanto têm sido na última década.
"Estrada Para Perdição", uma excelente adaptação que de quebra levou um Oscar de Melhor Direção de Fotografia e outras 5 indicações
Existem adaptações ruins? Sim.
Podemos citar “X-Men Origens: Wolverine“, “Lanterna Verde“, “A Liga Extraordinária” e muitos outros que me vêm à cabeça neste momento. O ponto é que, salvo raras exceções, o público que paga pra ver um ícone da cultura pop e não conhece os quadrinhos do personagem gosta do que vê. Isso faz com que o estúdio tente acertar para abocanhar uma fatia maior de público, em uma tentativa que tem levado às telonas tanto blockbusters óbvios quanto filmes baseados em quadrinhos independentes, como “Estrada para a Perdição“, “Os Homens que não Amavam as Mulheres“, “Scott Pilgrim Contra o Mundo” e “Mundo Fantasma“, por exemplo.
"A Liga Extraordinária", um desperdício de ótimos personagens em uma péssima adaptação
Já repararam que todos ganham com isso? Após um longo inverno onde víamos adaptações de péssima qualidade que não agradavam nem mesmo ao público em geral, somos brindados não apenas com a excelência visual de “Os Vingadores“, cuja narrativa e caracterização estão muito bem amarradas, como ainda ganhamos de brinde histórias alternativas interessantes. Mesmo que ainda não tenham encontrado a fórmula de como agradar a Daleks e Romulanos (gregos e troianos, se preferir), adaptar quadrinhos voltou a ser um bom negócio para os estúdios agora.
Goste você ou não!
Os Vingadores das HQs e suas personificações nas telonas. Será que funcionou?

Críticas e cia Ltda

Eu não imaginei que voltaria ao assunto tão cedo, mas sempre me espanto com o quanto a cultura pop pode se tornar repetitiva.  E se é assim, quem sou eu pra reclamar?

Esta semana foram divulgadas três novidades “assassinas”: o novo Batman, o redesign do Lobo e o novo gibi do casal Supermaravilha. Resultado: ódio instantâneo. Goste você ou não, no mundo de Harry Potter e Crepúsculo os personagens precisam mudar (de novo) ou perdem a penetração.
É o caso do novo título Superman /Mulher-Maravilha, uma DR mensal de 22 páginas. Os dois estão namorando, e coisas assim são inevitáveis, certo? Quando o desenhista Tony Daniel comentou que a pegada do novo projeto segue a linha da cine série “Crepúsculo”, os fã começaram a temer não só pela sexualidade dos personagens como pela qualidade das histórias, que para acontecer passaria a depender de tons eróticos obscuros.
Verdade ou exagero, este é um caso em que você compra se quiser, afinal, os dois personagens estão em vários títulos, cada um com sua interpretação do que seriam suas aventuras. Escolha seu tom preferido e siga em frente.
Já o Lobo…  Ah, o Lobo…
As imagens da nova versão do personagem foram divulgadas num dia e, já no dia seguinte, a roteirista da edição que o reintroduz nos Novos 52 tuitou que aquela não era a versão que apareceria na revista, o que nos leva a duas possibilidades: a editora está cometendo erros tolos devido ao Alzheimer ou simplesmente mudaram tudo devido à repercussão negativa.  Mais uma das muitas nestes últimos dois anos.
O massudo Lobo original e o atual Lobo do "Crepúsculo"
E afinal, qual Robert será o novo Lobo? Rob Zombie ou Robert Pattinson? Em breve descobriremos, mas não dá pra saber se gostaremos da resposta.
Mas e o bamb…digo, o Batman? Vamos combinar que foi à toa?
Adan West como Batman
Batman 66 foi um grande sucesso editorial e seu maior triunfo foi exatamente trazer de volta a versão mais criticada do personagem, vivida por um ator barrigudo. Se Adam West é incensado, o que faz Ben Affleck ser execrado? Como o Batman interpretado pelo diretor de “Argo” pode ser pior do que aquele que todos tentaram apagar décadas atrás? O ex-ator preferido de Kevin Smith recebeu até ameaças de morte sem que sequer tenhamos visto sua versão do personagem. Gente, o “Demolidor – O Homem Sem Medo” tem mais de uma década, o cara já ganhou um Oscar e até interpretou um Superman nos cinemas. E lamento informar: “Hollywoodland – Bastidores da Fama” não só é um bom filme como a interpretação dele agrada. Ele é um bom ator (um dos meus preferidos).
O mundo mudou, os títulos acompanharam e as editoras e estúdios estão testando conceitos que podem agradar ou não. Vivemos numa era declaradamente transmídia, algo que pode ofender alguns e agradar outros, principalmente devido às reinterpretações de personagens e de situações que vivem nas nossas lembranças ou formaram nosso caráter. Não é uma novidade, afinal, se os quadrinhos permanecessem sempre os mesmos nunca teriam chamado nossa atenção. A grande verdade é que pela primeira vez em muito tempo temos opções e podemos consumir outras versões dos personagens que nos agradem mais. Mais importante ainda é não criticar o que ainda não saiu. Nunca tire conclusões precipitadas.
Agora, se nada te agrada…  Que tal aproveitar as facilidades da modernidade e criar suas próprias histórias? Experimente. Pode ser divertido.
Ben Affleck, O Homem Sem Medo, o único a interpretar um herói Mavel e 2 heróis da DC no cinema

Artes Inéditas de Histórias da Bíblia

Apesar de ter tido uma edição publicada, a proposta da série Histórias da Bíblia era narrar todas as histórias contidas neste que é um dos ...