terça-feira, 8 de abril de 2014

Para tudo se acabar na quarta-feira.

Carnaval e quadrinhos.
Quadrinhos e samba têm a ver? Depende. Se você pensa só nos quadrinhos de Super-Heróis ou nos independentes modernos, a resposta é óbvia. O importado nunca vai comemorar os quatro dias do reinado de Momo. Já o quadrinho brasileiro…  E que personagem nacional exprime a brasilidade nagô senão o bom e velho Joe Carioca, o nosso Zé Carioca?
Vamos botar o bloco na rua que na Vila Xurupita o carnaval sempre teve vez.
Nosso querido papagaio não só nasceu polêmico como foi combatido pela fina flor do comunismo brasileiro da década de 1940.
Durante a Segunda guerra Mundial, o governo dos EUA tentou aumentar sua base aliada e mandou seu maior cartunista numa viagem pelas Américas, num esforço que ficou conhecido internacionalmente como “A política da boa vizinhança”. Ou seja, Walt Disney em pessoa visitaria as Américas e criaria personagens inspirados em habitantes típicos para uma série de curtas que seriam divulgados mundo afora. Outra artista envolvida no esforço foi a cantora portuguesa Carmem Miranda, que respondeu todas as críticas à altura com a música Ensopadinho de Chuchu.

Walt Disney nas areias de Copacabana
Num Brasil divido entre integralistas, comunistas e direitistas, fazer sucesso no exterior era chave de cadeia.
Chegando ao Brasil, Disney se entusiasmou com a arte do famoso cartunista J. Carlos (responsável pela arte de todo o material nacional da Disney) e resolveu homenageá-lo. Há quem diga que os sambistas Paulo da Portela e José do Patrocínio Oliveira também podem ter sido homenageados e especula-se que o hábito do guarda-chuva foi emprestado de uma figura folclórica carioca conhecida como Dr. Jacarandá.

Zé Carioca e Pato Donald em "Alô, Amigos"
O resultado foi a criação de um personagem bem brasileiro que, em 1942, no filme “Alô, Amigos“, introduziu o Pato Donald ao seu cantinho preferido da América Latina. O sucesso do personagem foi tão grande que, antes mesmo de sua estreia nos cinemas americanos, ele já tinha tiras em jornais brasileiros. Com o êxito do primeiro, foi produzido mais um filme, que em nosso país foi batizado com o nome do seguimento que nos interessou: “Você já foi à Bahia?” No filme, que teve até músicas de Ary Barroso, os três amigos Zé Carioca, Donald e o Mexicano Panchito chegaram a dançar ao lado de Aurora Miranda (irmã de Carmen) e do Bando da Lua.
Já nos quadrinhos, apesar de ter passado por outras editoras, foi na editora Abril que ele fez sua casa.

Donald, Zé e o mexicano Panchito em "Você já foi a Bahia?"
Suas histórias foram as primeiras a serem produzidas exclusivamente por artistas brasileiros, não só abrindo um belo mercado de trabalho como se tornando um item cultural de exportação. Ainda assim, seus coadjuvantes foram criados  pelos americanos. RosinhaNestorRocha Vaz… Só o Zé Galo foi criado no Brasil. Sua função foi adaptar para a nossa realidade as qualidades do então rival Luís Carlos, criado para as tiras americanas.
Seu flerte com o carnaval já vem da primeira história de sua revista americana, quando se envolveu com uma sambista inspirada em Carmem Miranda. Não por acaso a história se chamava O Rei do Carnaval.
Se no filme ele era um típico malandro brasileiro dos anos 40 apaixonado pelo Brasil, nos quadrinhos ele não só se tornou um favelado como um belo dum caloteiro capaz de qualquer coisa para fugir dos cobradores, até vencer uma corrida de 400 metros. E mais do que sua brasilidade nagô, ele foi mostrando sua carioquice. Samba, praia e futebol foram assuntos constantes em suas histórias. Contudo, por ser um personagem infantil, ele nunca foi visto com uma cachacinha na mão.
Curiosamente, devido à falta de histórias próprias, histórias de outros personagens foram readaptadas como sendo dele nos primeiros anos e até que a produção nacional fosse oficializada, para evitar que a Editora Abril cancelasse sua revista. Com isso, sua personalidade também era adaptada para caber dentro das histórias em que era incluído. Daí que muitos personagens originais tiveram de ganhar seus similares no universo do Zé Carioca. Um bom exemplo disso são os sobrinhos Zico e Zeca, que surgiram para ser decalcados quando histórias do Pato Donald fossem aproveitadas. A primeira história produzida no Brasil com o Zé recebeu o nome de “A Volta de Zé Carioca” publicada em O Pato Donald #165 (1955), cujos desenhos são atribuídos a Luís Destuet. Já a primeira história produzida por um artista brasileiro, Jorge Kato, teve o mesmo título da história de 1955 e foi publicada em O Pato Donald #434 (1960).
Até por causa das adaptações, e diferente do que era feito nos EUA, sua versão brasileira vivia em Patópolis (ou numa cidade próxima) e dividia muitas histórias não só com os personagens famosos quanto com seus coadjuvantes. Isso só mudou a partir de 1972, quando a produção Disney nacional foi consolidada e ele passou a fazer suas papagaiadas em cenários que conhecemos bem.
Nos anos 90, seu guarda roupa chegou a ser mudado. As roupas de sambista da primeira metade do século ficaram pra trás e ele passou a se vestir como qualquer jovem morador de comunidade. Até um boné ele passou a usar. Também nos anos 90 ele chegou a apresentar um Talk Show no extinto programa TV Colosso.
Na virada do milênio, vários títulos foram cancelados e a Disney decide fechar seu estúdio aqui no Brasil. Zé Carioca teve, então, sua última história nacional inédita publicada em 2001 – ainda que em 2005 e em 2013 tenham sido feitas mais tentativas, quando o personagem voltou com histórias inéditas produzidas em outros países. Supostamente, a editora tem um banco de histórias que talvez nunca lance.
Talvez vejamos novidades em 2014 e 2016, mas a verdade é que mesmo sem histórias inéditas continuamos tendo o papagaio em algumas publicações e, de tempos em tempos, o vemos em animações da Disney. Mesmo que a quarta-feira de cinzas tenha chegado para nosso querido Zé Carioca, a verdade é que novos carnavais podem trazer novidades para seus fãs.
[https://www.youtube.com/watch?v=4UviHjgH-d4]
- See more at: http://www.pipocagigante.com.br/?p=53576#sthash.eUoMPDtb.dpuf


Publicado originalmente no site Pipoca Gigante. Já  conhece o Pipoca Gigante? www.pipocagigante.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Artes Inéditas de Histórias da Bíblia

Apesar de ter tido uma edição publicada, a proposta da série Histórias da Bíblia era narrar todas as histórias contidas neste que é um dos ...